sábado, 23 de junho de 2012

Apoiar o desenvolvimento sustentável de Pernambuco não é investir em Suape

Heitor Scalambrini Costa Professor da Universidade Federal de Pernambuco A motivação em escrever esteartigo foi à propaganda institucional da CHESF-Companhia Hidro Elétrica do Rio São Francisco publicada na mídia. É dito que ainauguração de novas subestações e linhas de transmissão que atenderão ocomplexo industrial e portuário de Suape, com investimentos de 200 milhões dereais, implica que ”apoiar o desenvolvimento de Pernambuco é investir emSuape”. Aqui cabem alguns comentáriossobre esta afirmativa inserida em um contexto onde se evidencia o crescimentoeconômico do Estado, e não seu desenvolvimento. O que se verifica de fato é adesproporcional concentração e priorização de investimentos que estão sendorealizados no território de Suape em detrimento de outras regiões do Estado queconta com 185 municípios. Não é a intenção do autor questionar a importânciaque esta empresa teve e tem para o Nordeste, mas sim criticá-la por apoiar hojeum modelo de crescimento concentrador, excludente e predatório com relação aspessoas e ao meio ambiente, fazendo renascer o velho jargão utilizado na épocada ditadura militar, onde se dizia que é necessário fazer “o bolo crescer paradepois dividi-lo”. Um dos aspectos da crítica aomodelo adotado baseia-se na concentração de investimentos em Suape. Segundodados oficiais, de 2007 a 2014 serão investidos no Complexo, mais de 60 bilhõesde reais, com recursos públicos e privados. Montante que poderia ser mais bemaplicado se distribuído em empreendimentos descentralizados, menores,sustentáveis, atingindo um número maior de municípios. Outro erro desta proposta decrescimento econômico insustentável é o interesse de atrair e incentivar queindústrias “sujas”, do século passado, com grande capacidade de poluição(estaleiros, refinaria, petroquímicas, termoelétricas a combustíveis fósseis,...) se instalem em Suape. A concentração industrial utilizando combustíveisfósseis e seus derivados, em um território de 13.500 ha, é o maior dos erros,pois provocará graves agressões ambientais, poluindo a terra, a água e o ar,além de afetar a saúde das pessoas com doenças características deste ambiente,de muita liberação de gases tóxicos, e que também provocam o efeito estufa,contribuindo assim para o aquecimento global. Do ponto de vista daempregabilidade o Complexo de Suape deixa muito a desejar. A qualidade dosempregos oferecidos pelas indústrias ali estaladas exige uma capacitaçãoespecializada que não foi planejada pelos gestores, implicando em umaimportação de mão de obra. Hoje o perfil do emprego é majoritariamente paraatender a construção civil, portanto de baixa qualidade e transitório. Alem das questões econômicasque utilizam conceitos e estratégias altamente discutíveis e polêmicas, outroagravante constatado é relativo à questão social. O tratamento dado aos moradores nativosagride os direitos humanos daqueles cidadãos e cidadãs, visto a truculência decomo tem ocorrido a reintegração de posse. Famílias têm sido expulsas brutalmentesem que outro local seja disponibilizado para irem morar, contribuindo paraisso as “indenizações” (quando pagas) irrisórias, o que não possibilita aaquisição de outra moradia. A brutalidade contra estas famílias tem ocorridosistematicamente desde 2007 com a aquiescência das autoridades. O caso maisrecente da “selvageria” contra estas populações ocorreu contra os moradores doEngenho Tiriri em 22/05/2012. Experiências vividas emoutras partes do planeta mostraram que no entorno destes complexos industriais,além da devastação do meio ambiente ocorre o aumento de doenças nas populaçõesque habitam no seu entorno. No Brasil um exemplo clássico foi o ocorrido nacidade de Cubatão (58 km de SP) que ficou conhecida como a cidade dos"bebês sem cérebro". De 1978 a 1984, foram registrados váriosnascimentos de crianças anencéfalas, e a relação causal foi quase imediatadevido às emissões de gases e resíduos industriais, como fator principal para ocrescimento de casos de anencefalia, além de outras doenças respiratóriasencontradas em maior escala na região. Também distritos industriais como o deDuque de Caxias (RJ), Betim (MG), Porto de Aratu (BA), Pecém (CE), entre outrospodem servir de exemplos sobre a qualidade de vida dos seus habitantes. O progresso desejado não éfazer obras e privilegiar a parte econômica em detrimento de pessoas,comunidades, ecossistemas, e do meio ambiente. Crescimento econômico não seconjuga com desenvolvimento humano. Há que mudar o paradigma da voracidade dolucro para o progresso humano, que implica na melhoria da qualidade de vida daspessoas (educação, saúde, transporte, saneamento, moradia, segurança, lazer,...). Enquanto isso não ocorrer o crescimento atual com o consumo desenfreadotorna as populações mais pobres, aumentando os custos mais rapidamente do queos benefícios, além de cada vez mais destruir a natureza e a própriahumanidade. As crises que o mundo atravessa neste inicio do século 21, emparticular a econômico-financeira e ambiental, mostram claramente o esgotamentode um modelo promovido pela civilização industrial, e daí urge promover outrosvalores para o bem estar. Exemplos são muitos, edevemos tomar como exemplo o já acontecido no país e no exterior, para poderafirmar que os chamados ”benefícios” hoje trazidos pelo Complexo IndustrialPortuário de Suape, serão a médio e longo prazo pagos com o sacrifício e adeterioração da qualidade de vida da população pernambucana, que está perdendoa oportunidade de um desenvolvimento sustentável e para todos.

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